sábado, 9 de abril de 2011

Crepúsculo

Hoje acordei meio tarde. O sol já estava se despedindo na minha janela, as gotas da chuva dramatizaram um pouco mais o seu partir. Esse clima ameno me fez lembrar um texto que marcou muito minha vida. Apesar de ter sido feito por mim, e conter inúmeros erros e frases desconexas, eu tenho até um certo apego a ele.
Consigo criar um filme na cabeça. Tudo, absolutamente tudo ali são verdades: na descrição de uma corda torada do violino, ao macarrão que costumo fazer- tradicional do fim de semana- como diz minha irmã. Bom, vou por o texto, espero que ninguém se identifique com ele.

Outros Anos


Meu prazer por fazer macarrão ensopado de queijo acabou. Acabou a graça, a paciência, acabou o amor pelas coisas. Acabou de maneira indolor, como um corte em sangue quente, que só doe quando tudo se acalma, e acalmou, e doeu. A corda do violino torou, a tua corda, ajeitei uma vez, não deu, ela não quis ficar, se foi. O espaço ficou então esqueci lá no canto da parede. Não sei mais escrever, não sei argumentar, não tenho mais veracidade nas coisas, sou culpada. Sou passiva. Minha mania de acompanhar todos os filmes no cinema, de não perder um se foi. Se foi porque eu te esperava, e esperei muito tempo, até que ardeu ,formigou, senti a dor do corte. Mudei minha parede, as roupas, a cor da maquiagem, mudei o salto alto pra ficar no tamanho certo pra você e fiquei sem nada. O que era minha cara? -não sei: o que ouvia, o que lia, do que discutia, de quem gostava…nada restou.
        Eu me calo, mentira ,eu falo muito ,mas são palavras a toa, palavras dicionarizadas .Palavras estas que ficam sós, perdidas em pequenas folhas, sem muito sentido sozinhas ,mas estão lá, intactas ,esperando que alguém as use e faça sentido. Alguém que deturpe essa solidez da calma e aja, e mude, e grite, e doa. Minha visão é turva, minha voz é rouca, meu consentimento é constrangedor. Meu amor é estranho, é a tortura dos inocentes, mas é MEU. Foi o que sobrou pra dizer- tenho algo. Ainda me falta saber: quem eu sou. Ai, já são mais outros anos.





Em especial quero agradecer a morena da minha vida - de pés no céu - foi ela que me ensinou a voar em meio ao caos. E a você desejo todo amor do mundo. Obrigada por tudo. (v)







sexta-feira, 8 de abril de 2011

O começo

Bom, começar algo é sempre complicado. Sempre lhe falta as idéias, tempo, coragem mesmo. Como estou fazendo a primeira publicação logo após o termino do livro: O Xângo de Baker Street- Jô Soares, (que por acaso é muito bom e queria cita-lo) vou por um fragmento do livro: Água Viva de Clarice Lispector, que a mim veio como leitura "obrigatória" e que tornou-se leitura - prazer como meu professor costuma dizer.
-  Saber com sabor, és o lema. Frase citada inúmeras vezes por ele, que veio bem a calhar.

Então, és aqui o trecho de Água viva. Um pressuposto de mim.

"Escrevo-te porque não me entendo [...]Há muita coisa a dizer que não sei como dizer. Faltam as palavras. Mas recuso-me a inventar novas: as que existem já devem dizer o que se consegue dizer e o que é proibido. E o que é proibido eu adivinho. Se houver força. Atrás do pensamento não há palavras: é-se. Minha pintura não tem palavras: fica atrás do pensamento. Nesse terreno do é-se sou puro êxtase cristalino. É-se. Sou-me. Tu te és".

Este livro escrito por Clarice, nem a mesma soube classifica-lo: romance, drama ... não se encaixava em nada (em sua visão) intitulando - o de obra ficcional; ou seja, Tudo.
O livro é maravilhoso. Para os preguiçosos, ele é fino com letras garrafais : para o(a)s apaixonado(a)s uma boa dose de lirismo. Uma boa pedida para este fim de semana.

enjoy